sexta-feira, 24 de maio de 2013

Sobre verdades, mentiras e o universo das relações humanas


Instigante, perturbador, intenso. Essas três características podem definir de forma sucinta mais um thriller de Harlan Coben. O prestigiado autor de “Cilada” e “Não conte a ninguém”, entre outros, surpreende mais uma vez com “Desaparecido para sempre”. São 320 páginas de puro suspense. Lançado no Brasil em 2009 (Editora Arqueiro), o livro já vendeu mais de 40 milhões de exemplares em todo o mundo. Do início ao fim, o leitor é levado a experimentar um clima de mistério que se renova a cada final de capítulo. E quando se pensa que os acontecimentos vão seguir determinado rumo, engana-se. A narrativa é uma constante de reviravoltas, na qual nada é o que parece ser.
Harlan Coben é o único escritor a receber três prêmios da literatura americana, a chamada trinca de ases: o Anthony, Ahamus e o Edgar Allan Poe, pelos livros da série Myron Bolitar. As obras do autor já foram traduzidas para 40 línguas. Na França, Coben é conhecido como “o mestre das noites em claro”. O livro “Não conte a ninguém” virou filme e foi premiado, tendo como protagonistas Kristin Scott Thomas e François Cluzet. A película está disponível no Brasil em DVD.

A trama

            A história é contada em primeira pessoa por Will Klein. Ele mora em Nova Jersey e está com a mãe nos últimos momentos de vida. Em meio ao clima de tristeza, ele descobre que o irmão mais velho, Ken, acusado de estuprar e assassinar a jovem Julie Miller há 11 anos, está vivo. Ele esteve foragido, desaparecido durante todo esse tempo. Antes de morrer, Sunny, a mãe, faz a revelação. A família preferia acreditar que ele estava morto do que na possibilidade de sua culpa. A partir desse momento, o suspense toma conta da narrativa.
Embora o tema esteja relacionado a um acontecimento passado, ele é narrado de forma linear. O autor monta seu texto numa linguagem informal, com diálogos rápidos, diretos e, por vezes, sarcásticos. Em certos momentos, Will conversa como se estivesse frente a frente com o leitor, ou na internet, com interferências, quando quer enfatizar algo. Isso traz uma sensação de proximidade com a história.
A cada capítulo, uma surpresa. Uma nova descoberta que pode ser verdadeira ou falsa para os personagens envolvidos e novas informações para o leitor. Um bom exemplo disso é a revelação de que Julie havia sido namorada de Will. Ele tem verdadeira adoração pelo irmão desaparecido.
            Uma personagem importante e que e é responsável por ótimos momentos do livro é Sheila Rogers. Aqui está uma das maiores surpresas do thriller. Sheila é uma jovem de olhos verdes, muito bonita e zelosa, a quem Will ama apaixonadamente. No entanto, o que a moça tem de beleza tem de enigmática. Ela não gosta de falar de seu passado. Carrega muitos segredos. Acontece que, de repente, Sheila desaparece misteriosamente. Suas digitais são encontradas na cena de um crime e nada na cabeça de Will faz sentido. 
            Squares é professor de ioga e ex-partidário do nazismo. É o melhor amigo de Will. Em meio a essa teia de incertezas, o iogue conhece muita gente influente e tem acesso aos mais diferentes ambientes. Isso ajudava na busca de informações sobre o paradeiro de Sheila. Os três trabalhavam juntos na Covernant House, organização - que existe na vida real -, e que recolhia e crianças do submundo das ruas.

 Descompasso

            Coben sabe bem ambientar um suspense. A todo momento, um novo e contundente argumento, que transforma em dúvida o que aparentava ser certeza. Isso acontece nas passagens de Joseph Pistilho, um poderoso e ambicioso agente do FBI. Durante a investigação, suas indagações a respeito de Ken e Sheila Rogers levam o leitor a desconfiar de Will. Em determinado momento Katy, irmã caçula de Julie aparece e tudo volta ao começo. Nada é certo. Tudo caminha em descompasso. O que é verdade? O que é mentira?  O autor consegue manter o suspense até a última página.
            John Asselta, o Fantasma, amigo de infância de Ken, também revela muitas surpresas ao longo da narrativa. O apelido faz uma alusão à sua pele clara. Ele é descrito como perverso, sinistro, lunático. Um homem que gosta de machucar as pessoas, de matá-las. Quando ele entra em cena é de arrepiar. É assim quando Will diz: “E ali, sorrindo pacientemente com as mãos nos bolsos, estava o Fantasma.”.
O mais surpreendente nisso tudo é que é de Asselta um questionamento profundo, reflexivo e interessante do livro: “Você conhece a teoria de que toda vez que alguém faz uma escolha divide o mundo em universos alternativos?” Ele pergunta ao perigoso Philip McGuane, seu parceiro no crime. Diante da resposta positiva, ele continua, “Muitas vezes fico imaginando se em algum desses universos nós teríamos enveredado por um caminho diferente ou se, ao contrário, nosso destino era estar aqui não importa o que acontecesse”.
            John Asselta, Sheila Rogers e Katy, sem sombra de dúvidas, protagonizam três dos melhores e mais marcantes momentos do thriller. Cada um em um momento diferente, mas todos decisivos. Momentos de revelações surpreendentemente sensacionais. Coisas que o leitor nem imagina e que modificam de forma definitiva a realidade de Will. Para saber do que se trata, tem que ler o livro. Uma coisa é certa nisso tudo: Por “Desaparecido para sempre” vale a pena passar a noite em claro. O livro é completo. Supera todas as expectativas. É envolvente. Incrível.


Ficha Técnica:
Obra: Desaparecido para Sempre - título original (Gone for Good)
Autor: Harlan Coben
Editora: Arqueiro
Páginas: 320
Formato: 16 X 23 cm
Lançamento: 2009
Preço: R$ 29.90