segunda-feira, 15 de julho de 2013

Unindo música e cidadania, projeto social transforma a vida de crianças e adolescentes da periferia de São Paulo

Muitos jovens sonham em se tornar músicos, fazer parte de uma banda, ser artistas. Mas, para que seus anseios tenham possibilidades de realização, é preciso aprender a tocar um instrumento. No Brasil, estudar música é privilégio de poucos. A grande maioria vive às margens desse universo. Neste contexto, levando em conta a realidade do País, iniciativas que têm por objetivo inserir essa parcela da sociedade no ambiente musical fazem a diferença.

Engajada no propósito de contribuir para um mundo mais justo, a Associação Praticatatum, idealizada por Arlen Ribeiro, vem, desde 2008, trabalhando para desenvolver, por meio da música, a sensibilidade, a cidadania e as habilidades artísticas e intelectuais de crianças e adolescentes da periferia de São Paulo.

O projeto surgiu como expansão do curso de percussão, iniciado em 2002 no Programa I.D.E.A.L, do Educandário Dom Duarte – uma das unidades de atendimento social da Liga Solidária, na zona oeste de São Paulo.

O nome Praticatatum é decorrente da tentativa de expressar, através das sílabas, o som de alguns instrumentos de percussão como: bumbos, surdos, caixas e pratos, (PRA) é a tradução do som da apogiatura na Caixa, (TI) um leve toque no prato, (CA) um toque simples na caixa, (TA) outro toque simples na caixa mais forte e (TUM) uma batida no bumbo ou surdo.    

Cerca de 300 estudantes, entre 6 e 21 anos, participam do projeto. Eles aprendem percussão, musicalização infantil (xilofone, canto-coral e flauta-doce), violão, guitarra, contrabaixo, teclado, instrumentos de sopro e cordas, além da discotecagem com tecnologia musical informatizada.

Os alunos recebem informações musicais diversas, que vão da música popular à erudita, buscando referências, não somente dentro das salas de aulas, mas também frequentando eventos, shows e concertos musicais nos teatros da cidade de São Paulo.

Alguns desses adolescentes que se conheceram no projeto começam a montar as primeiras bandas e até já tocam em eventos. É o caso de Gabriel Alves, 18, e Leonardo Maia, 16, que formaram a banda “4 Elementos”, há quase um ano, com o intuito de tocar músicas diversas de artistas conhecidos e também composições próprias. Além deles, outros três estudantes completam o grupo. “Sempre amei música, éum sonho e um objetivo que quero alcançar”, afirma Guilherme Zacarias, guitarrista. Eles tocaram na festa junina do Educandário e já têm apresentação marcada para o dia 18 de julho no Céu Uirapuru.

Leonardo Maia faz guitarra e também é integrante da banda “Padawan”. Ele fala com entusiasmo sobre o trabalho que vem realizando ao lado dos amigos. “É realmente muito boa a sensação que as bandas  proporcionam. Elas são, na verdade, uma extensão do Praticatatum, mas só que agora de um jeito mais nosso.” Em uma garagem cedida pelo pai de um dos estudantes, os adolescentes passam horas ensaiando. Eles têm instrumentos próprios e conseguiram, emprestado do projeto, o equipamento de som.

Aluno há 4 anos, Gabriel Alves diz que descobriu o que realmente gosta e quer fazer no futuro. “No Praticatatum encontrei a música, que é a minha vocação, e também conheci lugares e pessoas. Com certeza quero seguir a carreira de músico, não consigo me ver fazendo outra coisa. A música sempre fez parte da minha vida”, diz o contrabaixista.

Já Renato Galvão, 18, que toca bateria na banda “Padawan”, revela que não só fez amigos, mas também viu surgir, por meio da música, uma nova perspectiva para enfrentar os problemas pelos quais passava, quando ingressou há 3 anos e meio no Praticatatum. “O projeto acrescentou muitas coisas positivas na minha vida. Através dele, conheci o curso que faço hoje, a musicoterapia. Era um momento muito difícil para mim, psicologicamente. Acredito que os amigos que ganhei lá e a música me ajudaram a melhorar, me fizeram bem”. Renato cursa o primeiro ano da faculdade e já tem planos de fazer uma especialização na área que escolheu seguir.

Para Arlen Ribeiro, ver esses jovens seguirem seus rumos na música, a partir do que aprenderam no Praticatatum, é um reconhecimento ao projeto. Ele ressalta a importância da música no desenvolvimento profissional e pessoal dos estudantes: “O conhecimento musical permite melhorar a concentração, o respeito mútuo, o trabalho em grupo, o desenvolvimento da coordenação motora, a percepção auditiva, o pensamento crítico e o contato com uma realidade repleta de manifestações culturais. Esses jovens talentos realizam um trabalho admirável. É muito importante para eles serem reconhecidos e prestigiados também na região onde vivem.”.