quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Violência em São Paulo

As desigualdades sempre foram marcantes na sociedade brasileira. É sabido que as discrepâncias sociais, a segregação e a concentração de renda nas mãos das minorias são potenciais fatores de violência. Na Cidade de São Paulo, os contrastes são aviltantes. Na zona sul da capital, dois mundos diferentes coexistem no mesmo espaço. O Morumbi e o complexo do Paraisópolis.

Segundo um estudo publicado no portal da prefeitura de São Paulo, Paraisópolis é considerada a segunda maior favela da cidade, com 55.590 pessoas e 20.832 imóveis. O estudo revela que boa parte das casas ali é feita de alvenaria e possui de dois a três cômodos. No Morumbi, luxuosos prédios com apartamentos requintados, (com valores que variam entre R$ 1.406 e R$ 9.459 o m²), além de grandes mansões compõem a distinta paisagem.

Na favela, a educação precária forma indivíduos despreparados, com poucas chances no mercado de trabalho e na vida. Em bairros como o Morumbi, as escolas particulares e as diversas atividades extracurriculares capacitam os jovens para as melhores universidades do país. Sem emprego, sem dinheiro e sem oportunidade, o caminho para muitos moradores das favelas é o da criminalidade. Os ricos tornam-se seus reféns.

O Morumbi vive o ápice da violência. Os assaltantes espreitam suas vítimas nos faróis da avenida Giovanni Gronchi e nos portões de suas mansões. De acordo com moradores falta policiamento na região. O problema, no entanto, é muito mais complexo.

As conseqüências desta disparidade são inevitáveis. Não se pode acabar com a violência sem antes criar condições favoráveis à educação, saúde, lazer, cultura e às necessidades básicas do indivíduo. Enquanto estas lacunas não forem preenchidas, os crimes, o medo e a insegurança continuarão fazendo parte do cotidiano do Paraisópolis, do Morumbi e de todos os brasileiros. 

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

ECONOMIA, POLÍTICA E A FOME NO MUNDO

A vida é uma incógnita. O homem, ao descobrir-se pensante, capaz de autodenominar-se como tal, tentou de várias maneiras, decifrá-la e explicá-la. Pouco conseguiu em tal propósito. Ao longo de sua existência e de suas diversas formas de pensamento, este ser complexo, paradoxal e inconstante lançou seu olhar sobre o meio que o cerca. Usou e abusou de tudo que encontrou pela frente. Consumiu os recursos da natureza. Sob o signo do desenvolvimento transformou-a, em muitos fatores, negativamente. Ele percebeu que tê-la a seu serviço era mais vantajoso do que viver integrado à ela. Desta forma, buscou a todo custo, riqueza. Com esse pensamento fez guerras. Matou inocentes. Construiu bombas atômicas. Quis sempre mais e mais, sem pensar nas condições primeiras da matéria: ela é escassa e perecível.
Ao longo da história da humanidade, grandes potências econômicas governadas por políticos poderosos regeram o mundo. Os benefícios sempre foram para poucos. Os olhos mantiveram-se fechados para as necessidades em comum e bem abertos para a finalidade única de satisfazer desejos particulares. Por meio de acordos políticos, más gestões, negligência, desvios de verbas privilegiaram-se e condenaram milhões de pessoas a uma vida miserável, à pobreza extrema, à fome e muitas vezes à morte. Sobre esse aspecto vale a pena ressaltar um dos períodos mais tristes e cruéis da história. Um crime contra a humanidade, protagonizado por Joseph Stálin em meio à Revolução Russa, mais especificamente, entre 1932/1933. O líder socialista da União Soviética, com dificuldades no trato sobre a estatização das terras da Ucrânia ordenou o confisco de todos os suprimentos alimentícios locais. Batatas, beterrabas, grãos. Tudo foi confiscado. Com a ajuda do Exército Vermelho, um cordão de isolamento foi colocado para que ninguém pudesse sair daquelas terras nem receber ajuda de fora. Em um ano, sete milhões de ucranianos morreram de fome. Os Milhões de toneladas de grãos confiscados dos camponeses foram exportados para o Ocidente[1].    
Hoje, de acordo com o relatório sobre O Estado da Insegurança Alimentar no Mundo 2012 (SOFI), no biênio 2010-2012, divulgado no dia 09 de outubro/12, em Roma pela FAO, FIDA e PMA[2], há no planeta, 2 bilhões de pessoas desnutridas e quase 870 milhões passam fome, o que equivale a 12,5% da população mundial. A maior parcela das pessoas sob essa condição, 852 milhões, vive nos países em desenvolvimento. E 16 milhões de pessoas subnutridas estão nos países desenvolvidos.
No prefácio do relatório os reponsáveis pela FAO, FIDA e PAM, José Graziano da Silva, Kanayo F. Nwanze e Ertharin Cousin, respectivamente declaram: “No mundo de hoje, com oportunidades técnicas e econômicas sem precedentes, consideramos totalmente inaceitável que mais de 100 milhões de crianças menores de cinco anos tenham peso insuficiente e não possam, portanto, alcançar o seu potencial humano e socioeconômico, e que a subnutrição infantil seja a causa de morte de mais de 2,5 milhões de crianças por ano.”
Os países da África sempre apresentaram um quadro elevadíssimo de subnutrição de sua população. O continente caracteriza-se pela constante presença da fome. As principais causas desta realidade naqueles países estão relacionadas à dependência econômica externa - fruto do período colonial -, à forma de ocupação territorial e ao grande crescimento populacional - só nos últimos quatro anos, foram agregadas ao continente quase 20 milhões de pessoas. Os africanos representam 15% da população mundial. No mesmo período, a quantidade de pessoas com fome que representava 175 milhões, subiu para 239 milhões. Outro agravante são as terras improdutivas para a agricultura, que se transformam em curto prazo, em áreas de desertificação, terras que têm sua capacidade fértil esgotada. O plantio de monoculturas destinadas ao mercado externo também contribui para o agravamento da situação.  
Cerca de 22,9% dos africanos não têm acesso às quantidades mínimas diárias de calorias necessárias para sua sobrevivência. Esta característica é chamada de fome oculta. Parte dessa população pode morrer de fome pela ausência ou insuficiência de nutrientes no organismo, como cálcio, proteína e potássio. A falta de vitamina A e do complexo B causam raquitismo, debilita o sistema imunológico no combate a vários tipos de doenças no organismo. Assim, o indivíduo fica vulnerável a contrair viroses, patologias bacterianas, consequentemente, fica impedido de trabalhar e sem dinheiro para comprar alimento.
Conforme James Morris, diretor-executivo do PMA, a carência de alimentos gera vulnerabilidade política. Neste sentido, a fome é simultaneamente causa e consequência da pobreza. Outro fator que deve ser levado em conta no contexto da fome são as condições climáticas. A FAO estima que Até 2050, 20% da população corre o risco de passar fome em virtude das perdas de produtividade associadas ao clima. A maioria dessas pessoas vive na África subsaariana. O levantamento aponta que entre os países em desenvolvimento, a região que mais sofre com problemas de subnutrição localiza-se no sul da Ásia, são 36% do total.
O Brasil é o segundo maior exportador de produtos agrícolas do mundo. Detém 22% de terras cultiváveis do globo e ainda assim, de acordo com o relatório, cerca de treze milhões de brasileiros passam fome ou sofrem com a subnutrição. O número equivale a 6,9% da população.

ANO DE SECAS

Os Estados Unidos, a maior potência agrícola do planeta, sofreu com uma grande seca este ano de 2012. A pior dos últimos cinquenta anos.  De acordo com uma matéria publicada na CNN, no mês de setembro/12, o calor excessivo do verão gerou sérios problemas de produção e estes se estenderão até 2013. Quase 80% dos Estados Unidos continentais foram afetados pela seca. E ainda, Rússia e Ucrânia também provaram a amarga experiência e viram seus produtos se perderem pelos mesmos motivos. A seca arrasou as principais culturas dessas regiões. Conforme a matéria, a safra de milho deve cair ao menor nível desde 1995. Em julho os preços do milho e do trigo aumentaram cerca de 25% cada e os da soja cerca de 17%. 
      De acordo com o economista-chefe global Bill Witherell[3], quando há noticias de crise no setor alimentício, o mundo inteiro fica em estado de alerta e de grande preocupação. No entanto segundo ele, as implicações destas secas recaem com maior impacto sobre países em desenvolvimento. Estes são os que mais sofrem os efeitos negativos dessas ocorrências. A população pobre não tem dinheiro para arcar com os aumentos de preços. De acordo com informações do Banco Rabobanck[4], divulgadas em setembro deste ano, o índice de preços de alimentos pode aumentar em até 15%. Há temor de que haverá uma nova crise de alimentos no mundo – a terceira em quatro anos. A instituição aponta que os preços globais dos alimentos deverão atingir níveis recordes em 2013. Além das secas já citadas, outra razão para o aumento dos preços é baixa estocagem de culturas de alimentos.

AVANÇO, DEGRADAÇÃO, DESPERDÍCIO

São inegáveis os benefícios dos avanços tecnológicos. A medicina, a cura de doenças, o aumento da expectativa de vida entre outros ganhos científicos que transformaram o modo de existir do ser humano, ao longo do tempo. No entanto, isso só foi possível, por meio da exploração dos recursos naturais. Ou seja, para se alcançar um, inevitavelmente, foi preciso destruir o outro.
O mundo, hoje, fala em conciliar o uso equilibrado dos recursos ambientais disponíveis com o atendimento às necessidades humanas sob o viés da economia. Agir de forma a harmonizar estes três fatores é atuar visando o futuro do planeta e das gerações que nele habitarão. Para se conseguir tais objetivos, todavia, é preciso mais que palavras. A situação pede urgência.      
As contradições, no entanto, estão longe de serem sanadas. No texto sobre alimentação apresentado no RIO+20, em junho deste ano, a FAO aponta dados impressionantes[5]. Avalia-se que cerca de 1,3 bilhão de toneladas de alimentos sejam desperdiçados, por ano, no mundo. Isso corresponde a um terço de toda produção alimentícia do planeta. Outro ponto que deve ser considerado refere-se à degradação dos solos. Estima-se que, anualmente, cerca de 24 bilhões de toneladas de terras férteis tornam-se improdutivas, afetando, desta forma, 1,5 bilhão de pessoas a nível global. Outro dado mostra que desde o começo do século XX até hoje, já foram perdidas aproximadamente 75% da diversidade de culturas nos campos agrícolas.  
Interessante o que Edgar Morin[6], diz sobre a economia em relação à sociedade. Segundo ele, os “Experts” desta área de conhecimento não são capazes de prever o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo, já que ela – a economia - não “dialoga” com as outras ciências. Em suas palavras: “A economia, a ciência social matematicamente mais avançada, é também a ciência social humanamente mais fechada, pois abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas, inseparáveis das atividades econômicas.” Conforme Morin para que se compreenda os problemas essenciais do mundo é preciso “mobilizar o todo”, ou seja, todas as áreas do conhecimento devem cruzar umas com as outras. Pois tudo está interligado. No âmbito individual, cada ser humano deve perceber-se como parte do todo, não como um observador apenas. Deve entender que não é o centro do mundo, mas um integrante dele. Para que isso ocorra, no entanto, segundo o sociólogo, é necessária uma reformulação universal do pensamento.
       Muitas causas dos desequilíbrios sociais estão ligadas às formas de governança e divisão dos bens. Sacrificam-se os recursos ambientais para a satisfação dos desejos de uma minoria. Enquanto a maioria desfavorecida padece pelos quatro cantos do planeta. Entretanto, quando a natureza decide se pronunciar, os homens do poder, da política, da economia, da tecnologia tornam-se pequenos e pouco podem fazer para detê-la. Assim, os especialistas podem prever a chegada de tsunamis, furacões, terremotos, secas, inundações, mas não conseguem impedir que eles sejam devastadores. E, claro, que sempre quem paga o preço mais alto é a população mais carente. E é nesse sentido que os governos deveriam agir. Primeiramente, inserindo as populações mais pobres nos planos econômicos. Consequentemente, a partir desta inserção muitas questões que assolam o mundo seriam resolvidas.
Todavia, pensando de forma pessimista sobre a natureza humana, seu caráter exploratório e sua transformação interior quando imbuído de poder, chega-se a conclusão de que o homem dificilmente abrirá mão de seus interesses pessoais em prol dos interesses comuns. Por outro lado, ainda há esperanças. Basta pensar que a vida é uma constante de transformações. Talvez, em um futuro longínquo, a reforma do pensamento citada por Morin realmente ocorra e as novas sociedades experimentem uma forma de existir menos injusta.

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Referências Bibliográficas
Quase 870 milhões de pessoas no mundo estão subnutridas – novo relatório sobre a fome
Visualizado em 25/11/12 – 19h
“As principais causas da fome na África” – visualizado em 24/11/12 – 14h
“Why 2013 will be a year of crisis” – “Por que 2013 será um ano de crise”
Visualizado em 24/11/12 – 15h



[1] Documentário  “The Soviet Story” (A história da união Soviética) – 2008. Dir. Edvins Snore
[2] Respectivamente - Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura; Fundo Internacional de Desenvolvimento agrícola; Programa Mundial de Alimentos.
[3] Consultor sênior de Finanças e Governança Corporativa da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
[4] Coöperatieve Centale raiffeisen-Boerenleenbank BA – A global leader in Food and Agri financing and in sustainability-oriented banking
[5] Texto produzido pelo Departamento de Informação Pública das Nações Unidas.
[6] Sociólogo francês – um dos principais pensadores da Teoria da Complexidade 

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Entrevista Pingue-pongue com Valdo Andrade - Música e Cultura na atualidade


"A música é imprescindível para o ser humano”

Produtor de vários projetos Culturais, com diversos artistas da música como Leny Andrade e Léo Gandelman; das artes plásticas como Fayga Ostrower entre outros; Valdo Andrade, que também é músico e educador musical nos conta em entrevista exclusiva concedida ao Blog, um pouco sobre a importância da música, em um contexto de grandes transformações como o que vivemos atualmente. Com uma visão privilegiada, já que pode observar o universo musical, sob três prismas, - produtor, músico e professor-, sua opinião crítica tem grande relevância, para leigos e conhecedores dessa arte; sobretudo, no que diz respeito à Indústria Cultural e ao incentivo à cultura no país.


B.L.M Qual a importância da música para as pessoas em uma época tão conturbada como a que vivemos atualmente?
Valdo - A música no mundo contemporâneo está como a internet, ou seja, ela é um meio para variados fins, tem uma finalidade terapêutica, transformadora, com excelentes resultados, sociabiliza, humaniza, integra indivíduos, aproxima, motiva. Podemos entendê-la através de diferentes composições; música para motivar torcida, (música de estádio). Musak, (música para elevador, supermercado); música para alterar estados de consciência (new age), canções de louvor espiritual (bajans), música para entretenimento, ou passa tempo. A música é imprescindível para o ser humano.

B.L.M – Qual a sua opinião sobre a Indústria Cultural, que coloca a música em uma categoria, de produto de consumo?
Valdo - A música na indústria cultural tende a ser uma música de fácil entendimento e assimilação para que possa atingir o maior numero de ouvintes. É uma música que procura resultados na quantidade, deixando de lado a qualidade; com clichês harmônicos, rítmicos, melódicos e inclusive textuais. Ela não pode ser colocada em uma categoria como arte.

B.L.M – Em que sentido isso pode afetar as gerações futuras de artistas e espectadores?
Valdo - Felizmente a chama não se apaga, pois, embora façam parte da minoria da sociedade, há pessoas que resistem à baixa qualidade atual e promovem o que ainda há de melhor. São eles, os educadores musicais, que estão nas escolas, nas rádios; ainda que segmentadas, como Eldorado, Nova Brasil e USP FM - falando da cidade de são Paulo -. Jornalistas de destacado conhecimento musical, maestros, arranjadores, músicos, produtores culturais.

B.L.M - Como educador, como você avalia o jovem estudante de música hoje?
Valdo - O jovem estudante de musica avalio, que está de cabeça aberta, embora, a maioria inicie seus estudos nem sempre com as melhores referencias. Muitas vezes vem com uma forma de ouvir condicionada; por exemplo, o ouvinte de um determinado gênero, só consegue reconhecer e entender aquela sonoridade. Isso porque o ouvido humano só reconhece em média 30% do que ouve nas primeiras vezes, o restante passa totalmente despercebido. Cabe ao educador musical, fazer um filtro e desenvolver a sensibilidade do aluno, fazendo com que ele se liberte de formas repetitivas e viciadas.

B.L.M – Quais os malefícios relacionados à música são mais comuns? 
Valdo – O mau hábito de ouvir música em alto volume pode trazer danos irreparáveis ao ouvinte, como perda parcial da audição, como ocorreu com diversos músicos de rock dos anos 70. O esforço repetitivo de exercícios pode causar lesões irreparáveis como do exímio e virtuoso pianista Keith Emerson da banda Emerson Lake & Palmera. A atmosfera de celebração somada com drogas lícitas ou não, pode passar do limite tolerável à saúde. Mas como você disse, isto está apenas relacionado à música, não é causado por ela, a música em si, só trás benefícios.

B.L.M - Em seus projetos Culturais, patrocinados pelo Governo, há o interesse do público, que tem gratuidade, em participar, comparecer?
Valdo – Há, o publico aparece, mas para isto ele precisa ter a informação, onde, quando, como e dar-lhe a acessibilidade, ou seja, há uma série de fatores que pode colaborar para que o projeto cultural atinja o objetivo do comparecimento do público.

B.L.M - O incentivo à Cultura no Brasil tem aumentado ou diminuído nos últimos tempos?
Valdo - O incentivo tem aumentado, mas ainda é muito pouco, quase nada para um país como o nosso, que tem a grandeza de um continente; com uma diversidade de riqueza musical imensa, com diferentes universos sonoros que são muito pouco conhecidos pelo seu povo. Ainda falta verba, para que isto possa se propagar, fazer com que nos conheçamos mais e possamos melhorar até nossa autoestima.

B.L.M – O que pode ser feito para melhorar essa situação?
Valdo - Aumentar verbas, que hoje majoritariamente estão centralizadas nas mãos de grandes empresas, através de leis de incentivos (Rouanet), e que muitas vezes são excludentes, (caso do Cirque du Soleil e Bradesco), - no qual o banco se aproveitou da lei de isenção fiscal, para promover a cultura, ou seja, transformou imposto em beneficio cultural. Mas vendeu ingressos a preço exorbitante, não acessível à população nem de média nem de baixa renda, obtendo alta lucratividade monetária-. Como incentivo, também seria interessante, projetos com intinerância, que possam percorrer o país de norte a sul, mostrando as diferentes culturas de seus habitantes; aproximando-os por meio das diversidades e de suas semelhanças.


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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

O Willy Wonka brasileiro


Lançado em 2010, pela Editora Alaúde, em comemoração às 1000 lojas da “Cacau Show”, o Livro “Uma trufa e... 1000 lojas depois!”, do fundador da empresa, Alexandre Tadeu da Costa, nos leva à uma viagem, digamos que, quase encantada, sobre o inicio da que é hoje, a maior rede de franquias em chocolates do Brasil e a maior rede, em número de lojas de chocolates finos do mundo. O garoto de vida simples, como ele mesmo diz, do bairro paulistano da Casa Verde, iniciou seu projeto empreendedor com um investimento de 500 dólares; com apenas 17 anos, e hoje, 23 anos depois, mostra os resultados de sua vitoriosa empreitada.

Alexandre já foi comparado pela mídia, com Willy Wonka, tal qual a personagem do filme a “A Fantástica fábrica de chocolates”, ele é apaixonado pelo que faz, o que explica a razão de seu sucesso. Seu empreendimento, contudo, não é uma mera ficção, muito pelo contrário, é uma grande realidade. “O que a cacau show fez foi, basicamente, encontrar um nicho pouco explorado e trabalhar muito a partir daí", diz.

De fácil e agradável leitura, a narrativa é do começo ao fim, estimulante e motivadora, não apenas pelas palavras do autor, sempre cheias de otimismo e emoção, mas também pelas reflexões do professor Jose Luiz Tejon, seu amigo de múltipla atuação profissional, ao final de cada capítulo. Além, de citações utilizadas pelo autor, de pensadores como Og Mandino; Executivos, como Jack Welch considerado o executivo do século XX; e Dale Carnegie, autor do livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas”. O livro conta também com ilustrações, imagens de colaboradores, de momentos marcantes da Cacau Show, do seu Instituto, da Escola de Samba Rosas de Ouro, campeã do carnaval 2010, com o enredo baseado do livro de sua autoria “O Cacau é Show”.

Segundo Alexandre, que carrega em si todas as características do empreendedor nato, filho de uma vendedora no famoso estilo porta a porta, dos mais variados produtos, desde o início, seu caminho sempre foi permeado de coincidências extraordinárias, ou melhor, encontros que se realizaram, porque houve uma busca. Foi assim, em um momento de intensa procura por uma solução, para um problema que enfrentara, logo no começo, já que vendera sob encomenda, dois mil ovos de páscoa de 50 gramas, e por displicência, não percebeu que o fornecedor não fabricava ovos nesse peso, que apareceu no seu caminho, a doceira, dona Cleusa Trentin. Ela propôs uma saída para Alexandre: fabricar seu próprio produto. Nascia ali, sua paixão pelo chocolate. “Mais do que qualquer outra coisa, eu sou um chocolateiro”. Define-se, duas décadas depois.

Como característica da classe de empresários obstinados, Alexandre afirma que no começo de tudo, teve que abrir mão de algumas paixões, como o vôlei, ou as peladas com os amigos. Seus “sacrifícios”, no entanto, foram válidos e os resultados não tardaram a aparecer; “Minha dedicação foi essencial para o rápido crescimento da Cacau Show”. Entretanto, o empresário reconhece não saber, onde começa sua vida pessoal e da empresa que criou, tamanho o envolvimento. “Já lotei três passaportes e quase todas as minhas viagens internacionais tiveram relação com chocolate”.

Criativo, humilde, visionário, inovador, arrojado, realizador, dedicado, responsável tanto social, quanto pessoalmente, são algumas características importantes do perfil de Alexandre, que fica transparente ao longo livro. Logicamente, que nem tudo são flores, em suas relações deve haver pontos negativos, como em tudo na vida, e que não são mostrados, já que este não é o objetivo do livro, além do mais, as histórias costumam ser romantizadas. Contudo, qualquer outra coisa negativa, torna-se mero detalhe, tendo em vista seu crescimento, sua capacidade de conservar sua essência, de tratar os funcionários com igualdade, no sentido de que acima de tudo, são dignas de respeito, pois cada pessoa tem seu valor a ser agregado à empresa. Esse é o diferencial desse jovem empresário de 40 anos, que se orgulha de ter seu nome ao lado de grandes empreendedores brasileiros, como Silvio Santos e Antônio Ermírio de Moraes.  

A história de sucesso de Alexandre é de grande valia, para encorajar o empreendedorismo no leitor. Além de servir como difusão e propagação da boa imagem de sua empresa, é também um cartão de visita para a conquista de novos franquiados. Sem contar a apresentação no mundo dos negócios. Alexandre, além de ser empreendedor nato, é um “vendedor de sonhos”. É, no entanto, responsável pelo que se propõe a vender. Ele é a mola propulsora que inspira e ao mesmo tempo contra mola que resiste ao fracasso.

Como bem diz Tejon, no último capítulo do livro, “nada pode ser melhor do que aquilo que é cultivado com amor”, ao comparar Alexandre com o Pequeno Príncipe, que perguntado, por exemplo, porque sua flor é a mais bonita do mundo, e ele responde que ela é a mais bonita, porque é ele quem a cultiva. Alexandre, com sua real fábrica de chocolates, é realmente, um grande exemplo disso. Sua história nos ensina que, para ser bem sucedido na carreira, qualquer que seja ela, é preciso ter coragem de mudar, assumir riscos, ter os olhos no presente e ao mesmo tempo, ter novas perspectivas, não estagnar, não pensar apenas na remuneração, o dinheiro deve ser a consequência, e não a causa do trabalho.
  
Afinal de contas, o mundo não para, está sempre dando voltas, sendo assim, por que não girar junto com ele? Isso, contudo, requer tempo, disponibilidade, envolvimento, entrega total àquilo a que nos determinamos a fazer; enfim, muita paixão. Esta é a visão e a história de um vencedor, completamente apaixonado pela escolha que fez para sua vida.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Paisagem da janela - um olhar sobre a realidade

V. Brasilândia - SP
 Da janela vejo a cidade de São Paulo. Não é a cidade toda, logicamente, é só um fragmento dela. Mas, embora seja apenas um fragmento desta metrópole  é uma paisagem bastante significativa, pois representa parte de uma triste realidade. Qual realidade? Aquela dos excluídos, dos marginalizados e felizes personagens, de uma existência falida. Pessoas que acordam de madrugada, enfrentam filas, ônibus lotado, tráfego caótico para chegar ao trabalho e garantir o sustento da família. Em cada casinha inacabada, uma história para contar. Uma mãe que perdeu o filho para as drogas. Uma mulher que perdeu o marido para o crime. Uma adolescente que será mãe, antes de terminar o ensino médio, a criança que será criada pela avó, e depois dessa  criança virá outra e outra  que, cedo ou tarde, será consumida pelo seu meio, sem uma única chance de tentar enxergar um mundo diferente. Em cada puxadinho, um novo começo e um modo de viver sem novidades, a não ser o novo aparelho de celular, o Ipod, o televisor, o computador, tudo comprado em 14 vezes (sem juros) ledo engano. 
V. Brasilândia - SP
Não há educação, mas há televisão, com seus programas de emburrecimento, embrutecimento e condicionamento. O salário não é suficiente para um plano de saúde, um tratamento dentário, no entretanto, é o bastante para a parcela da antena parabólica, do canal pago. Enquanto a TV dita a moda do momento, vão-se os dentes, a saúde, a educação, o prazer em viver. Sim, porque o que toda a gente pensa ser felicidade, nada mais é, que acomodação, passividade. O povo (sobre)vive e morre sem saber o que é viver. As grandes "comunidades" transformam as paisagens. Enquanto não houver consciência da população sobre o seu papel na sociedade, não haverá justiça. enquanto não cessar a ilusão, não haverá esperança de um país onde prevaleça a igualdade. Em suas casinhas e puxadinhos inacabados, o povo dorme e mesmo dormindo não sabe sonhar, porque está agarrado à fantasia e a fé de que tudo dará certo. Deus vai ajudar. E neste sono profundo de olhos abertos e mente cerrada, segue de um lado para o outro, em círculos de geração em geração. Enquanto isso, os poderosos riem, cantam e dançam sobre as cabeças que não sabem pensar. 

Qual a importância da Missão e da Visão dentro de uma Empresa?

Qualquer Empresa que preze por uma atuação crescente, contundente e em constante transformação dentro de uma sociedade a cada dia mais acelerada, sabe da importância que carregam a MISSÃO e a VISÃO, para que se busque e se alcance objetivos.  
A Missão não pode ser apenas, palavras que preenchem um espaço em branco e permaneçam como simples figuração. A missão deve ser a essência, a estrela-guia da Empresa. Pois é por meio dela que a organização se faz atuante no mercado, social e economicamente, buscando, ao mesmo tempo, suprir as necessidades dos clientes, e, logicamente, lucratividade. Os objetivos propostos devem ser cumpridos, para a construção de sua credibilidade.
Além disso, a missão e o funcionário dentro de uma organização devem andar de mãos dadas, isto é, o trabalhador, o prestador de serviços, tem que conhecer os valores daquela que paga seu salário. Do contrário, sente-se desmotivado, por conta disso, muita gente, não se identifica nem se compromete com a empresa na qual trabalha.
No que diz respeito à Visão, esta, não menos importante que a missão, tem como definição, o olhar de dentro para fora. É a promessa, o que se deseja alcançar futuramente, o compromisso que se firma sempre com o intuito de tornar real, de colher o que foi plantado na missão. A visão é o que faz com que a organização não fique estagnada, pois a realização daquilo que se almeja exige uma incansável luta; que se faz presente, interna e externamente, para aqueles que, realmente, têm como meta, o crescimento e o sucesso. Só para ilustrar, Organizações, como Apple, Magazine Luiza e Cacau Show são grandes exemplos, da importância da Visão e da Missão, para se chegar ao topo.
Aprendemos que uma empresa sólida e duradoura é aquela que sabe mirar, não apenas o seu entorno, mas a partir dele. É aquela que busca por meio de sua filosofia, motivar os funcionários, cativar fornecedores, entregar-se e arriscar-se sem medo do que virá. É aquela que tem como base o planejamento e o constante olhar para frente. É aquela que cumpre o que diz ser capaz de cumprir, e que não se contenta em ser o que é, ou seja, quer a cada dia, a cada mês, a cada ano ser a melhor. E que tem consciência, no entanto, que para alcançar tais feitos, deve agir com ética, lealdade e, acima de tudo, respeito para com a sociedade em geral.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Abrem-se as cortinas da realidade inventada, o espetáculo vai começar

Kirk Douglas em cena de "A montanha dos sete abutres"


Manipulação, audiência, gosto pela tragédia, por parte do público: fatos que marcaram a imprensa brasileira nos últimos anos, por fugirem da ética


Não é de hoje e nem por acaso, que o Jornalismo é duramente retratado nas telonas, como algoz da sociedade, o poderoso manipulador das realidades. O Jornalista, como indivíduo social, por sua vez, também não fica atrás, pois muitas vezes, para satisfazer seu ego acaba por agir em prol de status e a ética que deveria ser colocada em prática e em primeiro plano, em cada fato noticiado é deixada de lado. Muitas vezes é como se ela não existisse, para o Jornalista, e principalmente, para as grandes Empresas que o sustenta, aliás, elas são as beneficiadas com a notícia-espetáculo, que gera audiência, visibilidade e lucro. Um exemplo disso é a fantasiosa história do “bebê diabo”, na qual o jornal Notícias Populares, por falta de notícias que chamassem a atenção inventou que havia nascido um bebê com chifres e rabo no ABC paulista. A história se alastrou como praga e as vendas, por conta do caso, alavancaram.
Por outro lado, embora cada profissional tenha uma visão diferente dos fatos, existe uma verdade que é inerente ao acontecimento. Contudo, essa verdade, essa realidade, muitas vezes é vista pelo próprio público como desinteressante, a mídia em conseqüência disso, mostra o que sabe que será aceito, manipulando, muitas vezes, os fatos da maneira que acha necessário.  
A montanha dos sete Abutres filme dos anos 50 mostra a história de um jornalista antiético,  vivido pelo ator Kirk Douglas, que já foi demitido, justamente, por essa postura, de grandes Jornais como o The New York Times, e que vai trabalhar em um pequeno Jornal de uma pequena cidade, onde nada acontece. Ele almeja a qualquer custo voltar ao posto de antes; para isso espetaculariza e adia a solução de um acidente que acaba em tragédia, por conta de sua manipulação.
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Usa-se a máxima “quanto pior, melhor”, e isso, no entanto, acaba banalizando as notícias, sem levar em conta as pessoas envolvidas, os seus sentimentos, as suas dores.
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A apuração e veiculação da verdade deveriam ser a palavras chaves que movem o jornalismo e o jornalista, mas não é. No Brasil temos casos de sensacionalismo vergonhoso, que até hoje vivem latentes na memória da imprensa, como por exemplo, o caso da Escola Base, uma escolinha infantil, cujos donos foram acusados pelos mais variados meios de comunicação de molestarem as crianças. As vítimas acusadas e condenadas pela imprensa tiveram suas vidas transformadas, para o resto de seus dias, devido a esse mau jornalismo; aquele que fere os direitos, a integridade, a honra dos escolhidos para o massacre midiático.  
Não precisamos ir muito longe, há três anos, Isabella Nardoni foi jogada da janela do apartamento onde morava em São Paulo, pelo pai e a madrasta, que foram condenados. As notícias não tinham fim. Os jornais fizeram da tragédia um “show”. Assim como no caso Eloá, a jovem assassinada pelo ex-namorado depois de mantê-la refém em sua casa em Santo André. As pessoas assistiram ao vivo minuto a minuto a   morte anunciada de Eloá.
As tragédias atraem o leitor, o telespectador, e ainda mais quando são mostradas de forma sensacionalista. Usa-se a máxima “quanto pior, melhor”, e isso, no entanto, acaba banalizando as notícias, sem levar em conta as pessoas envolvidas, os seus sentimentos, as suas dores. E quem paga a dignidade roubada de alguém que foi acusado por algo que não cometeu? Ou das mães que perderam suas filhas e sabem que o país inteiro comenta sobre o assunto e que muitos até fazem piadas a respeito, pois o fato de tanto que “girou” foi banalizado?  
Segundo Clóvis Rossi, a função do Jornalista não é somente descrever, mas descrever para transformar. Pouco se vê a esse respeito. Pior, em vez de descrever um fato, a imprensa, o jornalista o modifica, inventa, aumenta, a ética é só uma pequena  palavra. Fecham-se as cortinas, a vida volta ao “normal”, até o próximo espetáculo.