terça-feira, 24 de setembro de 2013

Um dia em Inhotim


Inhotim, MG
O tempo era instável no dia do passeio. E assim, entre um chuvisco e outro, fomos apresentados às maravilhas de Inhotim. Um lugar paradisíaco, inspirador, lindo. Ali, a bela paisagem, os sons, o cheiro de natureza, o sabor das ervas que só conhecemos desidratadas como o orégano, a hortelã, o manjericão e até o adoçante aguçam nossos sentidos.
O instituto Inhotim é um dos mais importantes espaços de arte contemporânea do mundo e fica nos arredores de Brumadinho, em Minas Gerais. Foi Idealizado pelo empresário Bernardo Paz, por volta de 1980. Mais tarde, recebeu colaborações do paisagista Roberto Burle Marx. Hoje, mais de três décadas depois, o lugar seduz pela beleza de seu rico acervo Botânico, composto de plantas raras, além de obras de arte.
O acervo artístico que abrange esculturas, instalações, pinturas, desenhos, fotografias, filmes e vídeos, conta com cerca de 500 obras de mais de 100 artistas de 30 nacionalidades distintas.
Neste espaço, o visitante escuta o som da terra
As obras permanentes foram produzidas em grande parte sob o conceito de site-specific, que se refere a obras criadas conforme o ambiente e em local determinado. Assim, o artista ao ser convidado para desenvolver um projeto em Inhotim, considera as características naturais e culturais do lugar. As obras ficam Expostas ao ar livre, nas quatro galerias: lago, fonte, mata e praça, e em ambientes fechados.

A arte de Adriana Varejão

Uma das galerias visitadas foi a da artista plástica Adriana Varejão, que é hoje um dos nomes mais importantes da arte contemporânea. Ela participou de mais de 70 exposições nacionais e internacionais, como Bienal de São Paulo, Tote Modern em Londres e MoMa em Nova Iorque.
Natural do Rio de Janeiro, a artista nasceu em 1964 e, por volta dos 17 anos, frequentou a Escola de Artes Visuais do Parque Lage, EVA/Parque Lage, no Rio. Sua primeira exposição individual foi em 88, na galeria Thomas Cohn também no Rio de Janeiro. A principal fonte de produção de Adriana Varejão é a pintura, mas ela também transita entre a fotografia, a escultura e a instalação. 

Panacea Phantastica
Linda do Rosário
Na produção, a artista se utiliza de variadas fontes para alcançar o resultado desejado.
Monocromatismo, violência,
história, ruína, abstração. Ela se pauta no período colonial brasileiro, como pode ser visto na pintura dos azulejos portugueses que mostra a articulação entre as culturas lusitana e brasileira. A agressividade da matéria e a presença da dor em imagens, que chocam pela semelhança com o real, estão na arte de Adriana Varejão. A artista encontra inspiração nos botecos cariocas, açougues e banheiros europeus.Na galeria em Inhotim, pintura, escultura e arquitetura trazem à tona elementos históricos e culturais nas obras Panacea Phantastica (2003-2008), Celacanto provoca maremoto (2004-2008), O colecionador (2008) e Linda do Rosário (2004). Nesta última, parte de uma parede de azulejos brancos com o interior em “carne viva”, com as entranhas a mostra, provoca as mais variadas sensações no observador. O desabamento do Hotel de mesmo nome – Linda do Rosário -, no Rio de Janeiro, em 2002, quando um casal foi encontrado morto sob as ruínas das paredes azulejadas, serviu de inspiração para o trabalho. Panacea Phantastica: trata-se de um conjunto de azulejos com imagens de 50 tipos de plantas alucinógenas de diferentes partes do mundo. A obra, que foi criada de forma a se adaptar a qualquer arquitetura, tornou-se um banco e fica na entrada do pavilhão, num espaço que serve, ao mesmo tempo, para contemplação e convivência. Um texto em um dos azulejos faz uma analogia entre efeitos alucinógenos das plantas e alterações na percepção causadas pela arte.