quarta-feira, 28 de setembro de 2016

Televisão: espelho do telespectador?

Imagem Google
Os programas de TV são pautados a partir da "vontade" da audiência. O público é o termômetro. Se não tem quem vê, não tem por que mostrar.
Por Sueli Melo

O filme "Heroi por Acidente" coloca em pauta uma discussão interessante: a forma como a mídia se apropria da realidade e o modo como o público reage diante disso. De um lado está a busca desenfreada pela audiência, do outro, pessoas sedentas por histórias que as façam sentir algo que as tire de suas rotinas. Pode ser indignação, admiração, encantamento. Estes dois últimos sentimentos envolvem a película em questão ao trazer a mensagem do heroi. 

Na verdade, trata-se da construção de um heroi. As pessoas gostam de herois. A impressão que dá quando se tem uma discussão como esta é a de que os telespectadores se sentem bem quando enganados. Têm prazer em criar, inventar realidades com a ajuda dos meios de comunicação. Neste caso, a TV é mais poderosa do que outros veículos. Ela conta uma história, o povo acredita. Mesmo quando a televisão não inventa o que veicula é uma construção, porque o que é apresentado é feito de recortes, de enfoques muito bem pensados. Mas se a TV mostra é porque tem quem vê e gosta de ver.

Há na audiência (público) uma necessidade de projetar seus sonhos, ambições, frustrações, raiva no outro, no personagem, como se suas vidas fossem desprovidas de sentido ou importância. É aqui que está a questão central desta discussão: as pessoas se veem nos personagens de TV, sejam eles reais ou não. E os produtores, os donos do jogo, sabem disso. E se aproveitam. E aí não tem mais volta. O que foi mostrado não será apagado. Nem a TV nem o povo voltará atrás. 

No filme, quando a ambiciosa repórter Gale Gayley, que é capaz de tudo por uma matéria impactante, descobre que, na realidade, o heroi não é quem diz ser, ela percebe que o melhor é deixar tudo como está. É assim que funciona a mídia. Afinal, quem mais sairia perdendo, se a verdade viesse à tona? O personagem criado? O público? Ou a TV? Certamente a televisão. Porque o que entra em cena nesse momento é a credibilidade e a ética. Mas será que admitir um erro de apuração, um erro grave como esse seria tão prejudicial assim para ambos os lados? Pelo visto sim. Melhor maquiar, passar por cima e continuar na busca incessante de outros personagens, novas histórias que despertem sentimentos bons ou ruins nas pessoas, mas que continuem colocando a audiência nas alturas. Infelizmente, é isso que importa em um mundo cheio de gente que prefere ser conduzida a questionar, que precisa de herois e vilões para sentir que a vida não é vã. Mesmo que tudo não passe de invenção, pura e simples. 


Sinopse 

O filme, dirigido por Stephen Frears, conta a história de Bernie Laplante, papel de Dustin Hoffman, um homem aparentemente nada amigável com problemas na justiça, divorciado e pai de um menino de 10 anos, que um dia salva 54 passageiros, vítimas de uma acidente de avião. No meio da confusão ele perde um pé de sapato e desaparece. A repórter de TV Gale Gayley, intrepretada por Geena Davis, é uma das pessoas salvas por Laplante. A fim de descobrir a identidade de seu heroi e com isso produzir uma grande reportagem, ela e o canal onde trabalha oferecem um milhão de dólares a quem encontrá-lo. Acontece que Bernie doou o sapato que restou para um desabrigado chamado John Bubber - Andy Garcia -, um homem bonito e carismático, que se apresenta como o tal heroi anônimo para embolsar o dinheiro, mas acaba conquistando o coração de toda a cidade.