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O Filme de 1994, dirigido por Michael Radford, conta a história de Mario Ruppolo, um homem simples e sonhador que mora com o pai, um pescador, em uma vila, na Itália. Mário se recusa a seguir o mesmo ofício. Diz que tem enjoos no mar. Ele então consegue um emprego nos correios. Fica encantado quando descobre que vai entregar cartas para o poeta Chileno – Prêmio Nobel de Literatura (1971) - , Pablo Neruda que, por motivos políticos, está exilado na ilha. Eles, embora venham de mundos bastante distintos, logo se tornam amigos. A simplicidade de Mário cativa o poeta.
Mario apaixona-se por Beatrice, mas é muito tímido. Para tentar conquistá-la, pede a Neruda que o ensine a fazer poesia. Descobre que não é nada fácil. Não consegue escrever um poema sequer. No entanto, consegue o amor de sua musa, recitando para ela uma poesia de Neruda. Em determinado momento, o poeta lhe fala que nos textos poéticos são utilizadas as metáforas. Mario fica confuso, nunca tinha ouvido aquela palavra, portanto, não sabia o que ela significava.
Sentados frente à praia, Neruda lhe recita uma poesia. De forma figurativa fala sobre o mar. Utiliza o ritmo das palavras: intensidade, sonoridade. Dá voz ao mar. Ao questionar o que o amigo pensa sobre suas palavras, descobre que o fez sentir-se estranho. Mario descreve a sensação. Diz que, ao som da poesia, sente-se como se fosse um barco em movimento. Assim, o poeta explica ao amigo que a descrição do que sentiu é uma metáfora.
Com o fim do exílio, Neruda volta ao seu país. Mário fica extremamente triste, pois a presença do poeta na ilha o transformou. Ele desenvolveu seu senso crítico sobre política e classe social. O carteiro casa-se com Beatrice e ela engravida. Um dia, antes de sua morte, Ruppolo decide fazer uma surpresa para o amigo distante. Com um rádio transmissor, ele capta o som do mar, das montanhas, do coração do filho, ainda na barriga da mãe, e das estrelas. O carteiro, que não conseguira escrever uma palavra poética, nesse momento, cria a mais bela e única poesia de sua vida.
Segundo a semiótica perciana, um signo é algo que representa
à mente alguma outra coisa, algo diferente de si mesmo. Compõe-se de três
termos: o signo, o objeto e o interpretante. Neste sentido, Mario Ruppolo, o
interpretante, mesmo não conseguindo expressar-se em palavras poéticas, seu
objeto de desejo, como gostaria, transcende a dificuldade ao realizar a
gravação dos sons ambientes, inclusive o som das estrelas. A composição poética
do carteiro compõe-se de signos não verbais.
Quanto à relação, os signos se classificam em: ícone
que representa seu objeto por semelhança; índice, por ligação factual e
símbolo, por hábitos e convenções. O signo icônico ou hipoícone, de
acordo com Pierce[1], refere-se a algo que já se mostra
como signo, representando alguma coisa. Os ícones dividem-se entre: imagem, que diz respeito às
características abstraídas da imagem; diagrama que representa as relações
internas, semelhança entre a representação e a realidade e, por fim, as
metáforas que, segundo Pierce, “representam o caráter representativo de um
signo, traçando-lhe um paralelismo com algo diverso”. Ou seja, metáforas são
comparações, significados de dois elementos distintos.
Nas palavras de Lucia Santaella[2],
as metáforas “(...) extraem tão-somente o caráter, o potencial representativo
em nível de qualidade, de algo e fazem o paralelo com alguma coisa diversa. Há
sempre uma forte dose de mentalização e acionamento de significados nas
metáforas”. Neste caso, quando Neruda tenta explicar para Ruppolo o significado
da metáfora, ele não entende. No entanto, ao ouvir poema recitado pelo poeta, o
carteiro consegue captar, por meio dos sentidos, a beleza daquelas palavras.
Ele consegue sentir as palavras em movimento como o vai e vem das ondas do mar.
"O Carteiro e o Poeta" é uma Obra-prima. Repleta de significados, de signos verbais e não verbais: a música, a paisagem, a poesia, o amor, o aprendizado, a amizade e outros tantos. Simplesmente apaixonante e inesquecível.
[1] Citado por Santaella – A teoria
geral dos signos – como as linguagens significam as coisas – pg 111
[2] A teoria geral dos signos –
como as linguagens significam as coisas – pg 120
Uma história de amizade entre dois extremos, de um lado um simples carteiro e de outro um poeta chileno muito famoso.
ResponderExcluirBelíssima análise irá contribuir muito em minhas pesquisas acadêmicas
ResponderExcluirOlhei o filme, muito bom para a época, em inúmeros casos, aplicável nos dias de hoje (2018). celson weirich - Teutônia/RS
ResponderExcluirEXCELENTE ANÁLISE DO FILME. PARABÉNS !!!
ResponderExcluirA TROCA DE EMOÇÕES ENTRE UM INTELECTUAL E UM HOMEM SIMPLES, FEZ CRESCER AMBOS OS PERSONAGENS. UM EXEMPLO DE INTERAÇÃO PERFEITA.