segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Apego: uma traição para a alma?

Imagem Google
“A Alma Imoral” do rabino Nilton Bonder, livro, que também foi adaptado para o teatro, traz à tona reflexões sobre aspectos da existência do ser humano que fundamentam o seu ser e estar no mundo como conhecemos. Por meio de regastes históricos, o autor nos leva a uma viagem por um passado bíblico, sob a perspectiva da tradição judaica, e científico representado na teoria evolucionista de Darwin. 

A partir destes dois pilares, a obra caminha em direção a dois pontos centrais: o corpo e a alma. De acordo com o autor, corpo e alma são duas forças opostas que se complementam. O primeiro representando a materialidade e a segunda, a imaterialidade. Assim, enquanto corpo, produto de um passado, atenta para a preservação das tradições como forma de dar continuidade à espécie, a alma carrega em si a predisposição para transgredir, trair. O propósito a ser alcançado por ambos, no entanto, é o mesmo: a imortalidade.        

A Bíblia e a teoria da evolução, segundo Bonder, compreendem de maneiras distintas a existência humana e os preceitos que a conduzem. Na concepção bíblica escreve ele, o homem tem acesso à dimensão de si e de sua natureza transgressora. A finalidade de seu existir, portanto, não é somente a procriação, mas também a transcendência, papel cumprido pela alma que é movimento, mudança. Essa característica transgressora da alma a faz imoral. É por meio da dessa transcendência que a alma busca a eternidade. Já o que fundamenta a teoria da evolução, de acordo com o autor, é o conceito de que é o corpo o responsável pelo comportamento e pelas ações do homem, um animal moral. O desejo primeiro desse corpo dotado de moralidade é a multiplicação. Nesta matriz, procriar é, para o homem, se aproximar da imortalidade.

Ao apresentar um cenário em que se dialoga sobre o despertar da consciência e a descoberta do nu, a tradição e a transgressão, a moralidade e a imoralidade, a traição e o apego, Bonder coloca o leitor diante de um trabalho interior de análise e questionamentos sobre a complexidade da existência humana. 

A reflexão proposta por Bonder em sua obra é uma provocação a tudo aquilo que conhecemos sobre o assunto. É um desafio bastante pertinente ao momento que vivemos. Um contexto onde tudo muda o tempo todo. Ao nos debruçar sobre as páginas de “A Alma Imoral” temos a oportunidade de olhar a vida por outro lado.  Segundo o autor, o ser humano é a tensão entre o corpo e a alma, ou seja, entre a preservação e a transgressão. Dentro deste universo podem acontecer duas formas intensas de desequilíbrio, que são a traição e o apego.

É grande relevância tentar compreender a dimensão que esta questão, do apegar-se e do trair, abrange. Conhecer mais sobre estes dois aspectos inerentes ao corpo e a alma, além de ser muito interessante, faz-se necessário para ampliarmos a visão que temos sobre o assunto. 

Não nascemos prontos para a vida, nem aprendemos sozinhos, mas com aqueles a quem chamamos de família ou àqueles que nos cuida quando crianças. Em outras palavras, nossa condição humana nos faz dependentes um do outro para existir, sobreviver e nos perpetuar. Na busca pela eternidade, de acordo com o livro, se encontra o sentido das ações do corpo e da alma. Desta forma, o apego às pessoas, aos ensinamentos, tradições e valores que elas nos transmitem, ao longo da vida, torna-se inevitável. No entanto, deparamo-nos constantemente com situações que nos colocam em descompasso com tudo isso que foi aprendido.   

A vida acontece implacavelmente dentro desse universo, de certa maneira, “trágico” e paradoxal. Ninguém está isento desses dois fatores: o apego e a traição. E o mais fantástico, escreve Bonder, é que eles estão sempre juntos. Nas palavras do autor, “não existe experiência de traição que não venha acompanhada de apego”.  

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