sexta-feira, 23 de novembro de 2012

PARA REDUZIR ACIDENTES, PROJETO PROPÕE COLOCAR MOTOS ATRÁS DE CARROS

Segundo a Prefeitura 800 mil motocicletas circulam diariamente em São Paulo


            De acordo com a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET), em balanço divulgado no mês setembro, o número de acidentes fatais envolvendo motociclistas, na cidade, retraiu 23%, no primeiro semestre de 2012 em relação ao mesmo período de 2011 que teve 275 mortes contra 211 neste ano. Entre os motivos da retração, segundo o órgão estariam à fiscalização e à proibição da circulação de motos nas pistas expressas da marginal Tietê.

            O presidente da ONG Movimento Brasileiro de Motociclistas (MBM), Luiz Artur Cané questiona a veracidade das informações. “Na verdade eu não acredito que tenha ocorrido uma redução de acidentes com motociclistas, a informação que temos é a de que a média gira em torno 2 a 3 óbitos por dia, sem considerar as mortes ocorridas 76h após o resgate”, afirma.

De acordo com Cané, o problema dos acidentes está além do desrespeito às leis de trânsito. O ativista conta que em reunião com o DETRAN juntamente com a Associação Nacional de Transporte Público (ANTP), a infraestrutura foi uma das principais preocupações colocadas em pauta para constarem no plano do governo. “São avenidas recapeadas com bueiros sem tampas, desníveis, faixas escorregadias, buracos. Além disso, devemos considerar que o motoboy está cumprindo prazos e por isso vai acelerar cada vez mais e tudo isso potencializa os acidentes,” acredita.

 “Já perdi muito serviço, por não ser tão rápido, mas estou vivo. Muitos amigos meus, que trabalhavam comigo estão no cemitério e outros de cadeira de rodas, adiantou correr tanto?” Indaga Eduardo Passos, 31, profissional do moto-frete há quase dez anos. Para ele a culpa por boa parte dos acidentes envolvendo motos é dos empresários, donos de empresas de motoboys, que exigem cada vez mais velocidade nas entregas. Isso acompanhado de um trânsito caótico e falta de infraestrutura, eleva consideravelmente o número de acidentes. 

Para o músico e motociclista Arlen Ribeiro, motos e carros não deveriam circular no mesmo espaço, já que os veículos maiores deformam ruas e avenidas. “Não é possível um veículo que não tem carroceria, (para-choque) conviva com outro que tem, pelo menos, nas vias de maior velocidade, neste caso, deve-se construir moto-faixas”, diz. Cané argumenta que é preciso pensar em políticas de investimento em transportes públicos, já que a cidade não tem espaço para a construção dessas faixas exclusivas.

No que diz respeito ao corredor entre carros, ônibus e caminhões, por onde passam as motocicletas, Cané acredita que o corredor pode ser seguro, desde que se respeite os limites de velocidade. Para ele, não é preciso proibir as motos de circularem nesse espaço, mas regulamentar. Com isso, seria possível reduzir os acidentes.

O Deputado Federal Inocêncio Oliveira (PR/PE) propõe no projeto de lei 3626/2012 “A obrigatoriedade do motociclista circular pelo centro da faixa de trânsito. Proíbe a tomada do "corredor" pelos motociclistas”. Em outras palavras, as motos devem ficar atrás dos carros. De acordo com Ribeiro, a projeto já passou em primeira instância e está na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) para ser votada. Conforme o motociclista a proposta é equivocada, pois “não há uma conversa com a opinião pública, com quem convive com o problema cotidianamente. Eles simplesmente vão criando as leis e a gente vai aceitando”, critica.

Passos também acredita que caso o projeto seja aprovado, a situação do profissional do trânsito, assim como daquele que precisa de seus serviços, se complicará. “Se isso acontecer São Paulo vai parar, com certeza. Imagina levar um documento urgente no fórum Central, como é que o motoqueiro vai atrás do carro se o juiz está lá aguardando o documento”, opina.

“A intenção é boa, mas é inviável, não há a menor possibilidade deste projeto prosperar, pois ela complica a mobilidade urbana, faltou uma avaliação técnica ”, acredita.  Cané chama atenção para os índices de congestionamento, que segundo números oficiais chega a picos de 200km. O mapeamento, de acordo com o ativista, é feito por meio do monitoramento de apenas 3% das vias. “Agora pensemos em 800 mil motos circulando diariamente pelas ruas e ocupando o espaço de um carro, sem contar a distância de segurança de um veículo para outro. Além disso, os dois veículos tem tempos de frenagem diferentes”, considera.

O ativista aponta a necessidade de campanhas educacionais, que mostrem aos motociclistas os riscos que podem encontrar nas vias. Pois boa parte deles, não tem conhecimento sobre os desníveis, recapeamentos e pedriscos que podem causar acidentes fatais. Além de se apresentar propostas a médio prazo, de investimento em educação. “O motociclista tem que aprender a respeitar a legislação. Tem que exercer a cidadania sob todos os aspectos. A partir do momento em que se conhece os riscos e se respeita a legislação consegue-se melhorar as condições de segurança no trânsito”, assegura. De acordo com a Prefeitura de São Paulo, a morte de motociclistas é o fator que mais preocupa os administradores do trânsito da cidade.





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