segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Entrevista Pingue-pongue com Valdo Andrade - Música e Cultura na atualidade


"A música é imprescindível para o ser humano”

Produtor de vários projetos Culturais, com diversos artistas da música como Leny Andrade e Léo Gandelman; das artes plásticas como Fayga Ostrower entre outros; Valdo Andrade, que também é músico e educador musical nos conta em entrevista exclusiva concedida ao Blog, um pouco sobre a importância da música, em um contexto de grandes transformações como o que vivemos atualmente. Com uma visão privilegiada, já que pode observar o universo musical, sob três prismas, - produtor, músico e professor-, sua opinião crítica tem grande relevância, para leigos e conhecedores dessa arte; sobretudo, no que diz respeito à Indústria Cultural e ao incentivo à cultura no país.


B.L.M Qual a importância da música para as pessoas em uma época tão conturbada como a que vivemos atualmente?
Valdo - A música no mundo contemporâneo está como a internet, ou seja, ela é um meio para variados fins, tem uma finalidade terapêutica, transformadora, com excelentes resultados, sociabiliza, humaniza, integra indivíduos, aproxima, motiva. Podemos entendê-la através de diferentes composições; música para motivar torcida, (música de estádio). Musak, (música para elevador, supermercado); música para alterar estados de consciência (new age), canções de louvor espiritual (bajans), música para entretenimento, ou passa tempo. A música é imprescindível para o ser humano.

B.L.M – Qual a sua opinião sobre a Indústria Cultural, que coloca a música em uma categoria, de produto de consumo?
Valdo - A música na indústria cultural tende a ser uma música de fácil entendimento e assimilação para que possa atingir o maior numero de ouvintes. É uma música que procura resultados na quantidade, deixando de lado a qualidade; com clichês harmônicos, rítmicos, melódicos e inclusive textuais. Ela não pode ser colocada em uma categoria como arte.

B.L.M – Em que sentido isso pode afetar as gerações futuras de artistas e espectadores?
Valdo - Felizmente a chama não se apaga, pois, embora façam parte da minoria da sociedade, há pessoas que resistem à baixa qualidade atual e promovem o que ainda há de melhor. São eles, os educadores musicais, que estão nas escolas, nas rádios; ainda que segmentadas, como Eldorado, Nova Brasil e USP FM - falando da cidade de são Paulo -. Jornalistas de destacado conhecimento musical, maestros, arranjadores, músicos, produtores culturais.

B.L.M - Como educador, como você avalia o jovem estudante de música hoje?
Valdo - O jovem estudante de musica avalio, que está de cabeça aberta, embora, a maioria inicie seus estudos nem sempre com as melhores referencias. Muitas vezes vem com uma forma de ouvir condicionada; por exemplo, o ouvinte de um determinado gênero, só consegue reconhecer e entender aquela sonoridade. Isso porque o ouvido humano só reconhece em média 30% do que ouve nas primeiras vezes, o restante passa totalmente despercebido. Cabe ao educador musical, fazer um filtro e desenvolver a sensibilidade do aluno, fazendo com que ele se liberte de formas repetitivas e viciadas.

B.L.M – Quais os malefícios relacionados à música são mais comuns? 
Valdo – O mau hábito de ouvir música em alto volume pode trazer danos irreparáveis ao ouvinte, como perda parcial da audição, como ocorreu com diversos músicos de rock dos anos 70. O esforço repetitivo de exercícios pode causar lesões irreparáveis como do exímio e virtuoso pianista Keith Emerson da banda Emerson Lake & Palmera. A atmosfera de celebração somada com drogas lícitas ou não, pode passar do limite tolerável à saúde. Mas como você disse, isto está apenas relacionado à música, não é causado por ela, a música em si, só trás benefícios.

B.L.M - Em seus projetos Culturais, patrocinados pelo Governo, há o interesse do público, que tem gratuidade, em participar, comparecer?
Valdo – Há, o publico aparece, mas para isto ele precisa ter a informação, onde, quando, como e dar-lhe a acessibilidade, ou seja, há uma série de fatores que pode colaborar para que o projeto cultural atinja o objetivo do comparecimento do público.

B.L.M - O incentivo à Cultura no Brasil tem aumentado ou diminuído nos últimos tempos?
Valdo - O incentivo tem aumentado, mas ainda é muito pouco, quase nada para um país como o nosso, que tem a grandeza de um continente; com uma diversidade de riqueza musical imensa, com diferentes universos sonoros que são muito pouco conhecidos pelo seu povo. Ainda falta verba, para que isto possa se propagar, fazer com que nos conheçamos mais e possamos melhorar até nossa autoestima.

B.L.M – O que pode ser feito para melhorar essa situação?
Valdo - Aumentar verbas, que hoje majoritariamente estão centralizadas nas mãos de grandes empresas, através de leis de incentivos (Rouanet), e que muitas vezes são excludentes, (caso do Cirque du Soleil e Bradesco), - no qual o banco se aproveitou da lei de isenção fiscal, para promover a cultura, ou seja, transformou imposto em beneficio cultural. Mas vendeu ingressos a preço exorbitante, não acessível à população nem de média nem de baixa renda, obtendo alta lucratividade monetária-. Como incentivo, também seria interessante, projetos com intinerância, que possam percorrer o país de norte a sul, mostrando as diferentes culturas de seus habitantes; aproximando-os por meio das diversidades e de suas semelhanças.


www.orangemusic.com.br
Escola de Música

Nenhum comentário:

Postar um comentário